O que você faria se soubesse que até para ocupação de salas nas câmaras de vereadores existem negociações obscuras?
Pois é, foi por se espantarem com a tranquilidade com que isso era tratado na câmara de vereadores de Passo Fundo que alguns dos novos vereadores eleitos se levantaram para questionar quais os critérios adotados para distribuição de salas entre aqueles que irão ocupar a casa do povo.
Ao que tudo indica, as práticas são antigas e das mais diversas, variando da combinação particular entre vereadores, para decidir quem fica com qual sala; da entrega de salas condicionadas a compra da mobília interna; até mesmo com a troca de fechaduras das salas na calada da noite, impedindo, assim, que os representantes do povo assumam seus locais de trabalho.
Costume sem regulamentação específica na câmara de vereadores de Passo Fundo, o tema levantou divergências, pois vai totalmente contra princípios constitucionais como o da igualdade e o da moralidade, na medida em que o patrimônio público é tratado como se propriedade privada fosse.
Contrários a esta prática os novos vereadores eleitos Mateus Wesp, Betinho Toson e Ronaldo Rosa, bem como mais alguns parlamentares, resolveram mostrar - já mesmo antes da posse - que a moralização da política e o discurso de renovação vieram para ficar e chacoalhar as estruturas da câmara de vereadores.
Afinal, se para com as salas dos gabinetes os parlamentares tratam o patrimônio público como propriedade privada, o que esperar dos representantes do povo quando da discussão de assuntos de alta relevância pública como, por exemplo, a aprovação do orçamento, a composição de comissões e a representação popular?
Indagados de porque não discutiram tais assuntos de modo privado - entre os vereadores - os novos representantes eleitos afirmaram que a coisa pública se discute com o púbico e não às escondidas, afinal, impossível representar o povo de modo verdadeiro se a atuação dos políticos não for transparente e às claras.
A população precisa saber o que ocorre na casa daqueles que dizem lhe representar. Somos de uma geração que cresceu cansada de política suja, de compra de votos, de boca-de-urna, de corrupção com salários de assessores e, principalmente, do uso dos bens públicos como se fossem propriedade privada.
Lembrando as manifestações populares de 2013, nas quais escutávamos o grito de “Não é pelos R$ 0,20 centavos” os novos vereadores que se opuseram a tais práticas, afirmaram enfaticamente que “Não é pelas salas”, mas pela ética na política que começa nas pequenas atitudes.
A discussão não se faz por espaços, salas ou gabinetes, mas pela forma dos representantes do povo se portarem na condução da coisa pública. Ocupação de salas por conveniências políticas, barganhas ou até mesmo troca de favores são repugnantes e demonstram exatamente o tipo de perfil político que a população está cansada de ver.
Usar discurso moralista em campanha política e fechar os olhos para atitudes antiéticas, que ocorrem nos bastidores, representa o tipo de falso moralismo que os eleitores não aguentam mais.
Qual posição o eleitor espera do seu representante? Que tenha coragem para modificar atitudes antiéticas, sejam elas quais forem, ou que prossiga mostrando medo de enfrentar as velhas práticas políticas que as urnas já reprovaram?
A falta de critério de escolha que permite gerar negociações indevidas, o que já bastaria para decidir pelo sorteio, demanda a adoção de um mecanismo jurídico capaz de moralizar a política municipal.
Sugestão dos novos vereadores acima citados foi a de oportunizar aos vereadores reeleitos que exerçam um direito de preferência optando, se assim quiserem, por ficarem com os atuais gabinetes. Será respeitoso para com aqueles que há mais tempo representam a população, como também mais justo e racional para com o eleitor que assim já sabe onde encontrar seu representante reeleito.
Todavia para os novos vereadores, bem como para os reeleitos que querem trocar de sala, nada mais justo do que a realização de sorteio para a ocupação dos espaços. Afinal, todos os vereadores possuem igual poder de representação não havendo motivos para privilegiar uns em detrimento de outros.
Ademais, se a ocupação das salas é tão irrelevante, como muitos dos atuais vereadores afirmaram, como explicar a preocupação de muitos em trocar ou buscar outras salas ou mesmo de se oporem a realização de sorteio?
Por não considerarem as salas de gabinetes como roupas em cabides de loja, onde cada um pega o que quer, é que os novos vereadores eleitos Mateus Wesp, Betinho Toson e Ronaldo Rosa não foram até a câmara de vereadores para "escolher" salas.
Ao contrário, decidiram por protocolar - nesta quinta-feira - um ofício à Presidência da casa e aos demais vereadores, solicitando a adoção de um critério justo e sério para acabar com esta forma de cuidar das coisas do povo.
A mudança política começa agora. Mantenha-se informado sobre o que o seu parlamentar está fazendo.