O dia 31 de março de 1964 modificou para sempre a história do nosso país. Para além da crescente polarização observada nas discussões em torno do seu significado, uma tarefa que permanece inacabada é a de lançar um olhar desapaixonado sobre a questão, a fim de que não se tente justificar o injustificável.
Para aqueles que defendem tudo o que ocorreu no período entre 1964 e 1985, é necessário compreender que, por mais legitimidade que detivesse o movimento iniciado naquela data – e que teve apoio da Igreja, da Ordem dos Advogados do Brasil e da imprensa, culminando numa eleição, inclusive com a participação de civis e de um herói nacional, como o ex-presidente Humberto de Alencar Castelo Branco, - ela depois foi perdida com os sucessivos golpes representados pelos Atos Institucionais, que posteriormente acabaram com as instituições políticas democráticas e permitiram que violações da dignidade humana fossem perpetradas.
Aos que pretendem deslegitimar a insurreição cívico-militar de 31 de março, é necessária a franqueza para reconhecer, como Fernando Gabeira e Eduardo Jorge, hoje democratas, que as guerrilhas atuantes no país naquele período não lutavam por democracia, mas sim por um totalitarismo como os de Cuba, da China e da União Soviética.
Opor a uma insurreição contra a ordem legal sua própria ilegalidade é se esquecer de que o juízo sobre tal tipo de acontecimento deve ser sempre orientado pelo critério da legitimidade. Afinal, pela simples ilegalidade, eventos como a Revolução Maoísta e a Independência do Brasil deveriam ser considerados idênticos.
O que o regime pós-1964 demonstrou foi não ser ilegítimo, mas malsucedido, ao devolver ao país não apenas a ameaça comunista, latente nas nossas universidades e ascendida ao poder anos depois, quase precipitando o país num neototalitarismo, mas as velhas formas políticas instáveis, ocasião de crises já àquela época: presidencialismo, multipartidarismo e centralização. Tudo isso precisa ser mudado urgentemente, antes que comprometa o futuro do país.