Verde amarela era uma bandeira, tricolor rio-grandense a outra. Essas foram as cores dessa revolução silenciosa aqui no Sul do país, movida pelo ímpeto de vários brasileiros que, cansados do jugo da tirania, levantaram suas vozes para combater a opressão, afinal, povo que não tem virtude, acaba por ser escravo.
Os objetivos eram diversos e começaram a ser desenhados pela revolta dos caminhoneiros que, arriscando suas vidas há muitos e muitos anos, esquecidos pelos governantes e pelo povo, buscaram gritar “liberdade” e lutar por melhores condições de trabalho.
Aquilo que começara como uma crítica ao alto valor dos combustíveis, as péssimas condições das estradas, a falta de segurança e pelo repúdio a um governo corrupto que – tendo aumentado os tributos de modo nunca antes visto na história desse país, gasolina, diesel, PIS/COFINS – zombava de tão importante categoria, logo transformou-se na paralisação de uma nação. Aqueles que trouxeram por anos o nosso alimento à mesa, que movem o país de norte a sul, nem tinham atinado de qual pedra eram feitos e, de modo audaz e com galhardia, encostaram suas carretas, sem fazer algazarra ou baderna, dispostos a ir até o fim, sem violência ou motim, para salvar o país.
O governo, acostumado com a submissão do povo, demorou a compreender o que se passava nesse movimento. Pensava poder – como tantas vezes fizera com os trabalhadores brasileiros – comprar a indignação de nossa gente. Aqueles que mostram a verdadeira cara do brasileiro, que cortam estradas, muitas vezes, sem se alimentarem direito, sem descanso, sem parar, longe da família que, frequentemente saudosa, vê os filhos crescerem sem que o pai esteja presente, cumpriram com o dever do interesse do povo defender contra tudo e contra todos, pois, nem com todas as dificuldades que enfrentaram ao longo da vida, os caminhoneiros cessaram de transportar as nossas riquezas, na boleia, com alegria, mesmo sob as mais brazinas circunstâncias.
Testados pelos tiranos, não fugiram do embate. Firmaram compromisso com a verdade e expressaram os anseios de milhões de modo que, por mostrarem tanta coragem, foram logo seguidos pelos agricultores, todos eles também trabalhadores, que produzem a riqueza do país que pode se dizer feliz por ter tantos que ainda acreditam no Brasil e que, por isso mesmo, cerraram fileiras nos acampamentos por todo o país, em todas as cidades, nas noites frias ou com o sol a pino, ao lado dos caminhoneiros.
O Presidente, surpreso com a resistência que durava dias, buscou dividir para conquistar jogando os caminhoneiros contra o povo. A nação brasileira, que aos poucos aderia, tímida e lentamente, pois tudo isso lhe era novo, começou a ver que ali se tratava de um clamor patriótico que, sem dizer, afirmava: “Não são apenas os combustíveis”, mas, todas as corrupções de caráter que, como consequência, corrompem o bem público e o dinheiro do povo fazendo das funções de Estado banquete para a farra privada e o interesse mesquinho.
É claro que o país corria o risco de quebrar – e a isso ninguém interessa -, mas, a quebradeira de caráter dos líderes políticos, que há décadas é sofridamente sentida, parecia pesar mais no coração dos manifestantes do que propriamente a destruição da já precária economia brasileira.
Nos acampamentos era possível perceber que ali não estavam só caminhoneiros, mas gaúchos, brasileiros, de todas as cores e religiões, uns das mais distantes regiões e outros de longínquos rincões, que tinham encontrado uma identidade e um motivo para lutar: eram brasileiros e isso lhes bastava. Conforme a saudade ia apertando nos corações dos manifestantes e os mantimentos iam escasseando, fugia também a esperança de ver nessa andança um resultado promissor, pois, de fato, o ditador, como tantos outros dentre nossos últimos presidentes, queria vencer no cansaço, mantendo assim abafado, o grito de nossa gente.
No fim das contas o movimento foi dispersado, pois, a ordem ainda precisa imperar já que não vamos a nenhum lugar com a baderna e o caos. No final, em alguns lugares do país, aproveitadores começavam – de modo muito matreiro – a infiltrar-se nas forças populares e, com alarde, querer usar o movimento para derrubar o atual presidente, somente porque tinham em mente restaurar no poder outros tiranos que, também por enganos, foram o povo iludindo ao ponto de um, talvez por força do destino, envergonhar a nação, ao se mostrar como ladrão, e, mesmo atrás das grades querer sem merecer voltar a ter liberdade.
Mas saibam todos que, no fundo, não fomos derrotados, pois, com coragem, mesmo que por alguns dias, balançamos os alicerces da República fazendo tremer os poderosos que, escondidos frente a audácia dos corajosos guerreiros paralisados nas estradas, temiam a derrubada de toda a sua quadrilha.
E assim, como a esperança que não morre, mas, no tempo se prolonga, nasceu uma semente temporona – pois, há muito tempo, devíamos ter feito isso – que crescerá fincando raízes profundas no coração dos brasileiros que já não aguentam desmandos e que, por isso mesmo, pelo voto irão varrer os traidores da pátria, não “à bala”, pois o movimento também será pacífico, mas, pela vontade popular, que em outubro irá expressar, nas urnas, as cores dessa revolução silenciosa.
Assim nasce um novo Brasil. Que Deus salve essa nação e todo o povo brasileiro.