A privatização de empresas estatais gaúchas volta ao primeiro plano dos debates públicos em nosso Estado. A polarização sobre o tema é conhecida de todos: de um lado há os que a defendem com um fim em si mesmo, pois crêem que administrar empresas não é tarefa legítima do Estado. Do outro lado, os que a rejeitam liminarmente, pois crêem que o Estado tudo deve prover aos cidadãos, de água e esgoto à eletricidade, passando pelos serviços bancários.
Os extremos por vezes compartilham os mesmos atributos: a cegueira das paixões ideológicas, o idealismo doutrinário, os pré-conceitos arraigados. É um debate em que a racionalidade e o equilíbrio costumam ser as primeiras vítimas, logo seguidas pelas considerações sobre o bem comum dos gaúchos. Assim com nas nossas decisões individuais, também na política a finalidade é aquilo que dá sentido às nossas ações, de modo que esse debate precisar ser colocado em perspectiva a partir da seguinte questão: para que privatizar?
A resposta a essa pergunta precisa ser dada com olhos abertos para a realidade do Rio Grande do Sul. Infelizmente, o nosso estado tem sérias dificuldades para entregar à população aquilo que dele se espera. Há deficiências gritantes na segurança, na saúde, na educação, na infraestrutura. Na raiz dessas deficiências, temos um orçamento público cronicamente deficitário, que suga recursos da economia gaúcha sem que se apresente o devido retorno à sociedade.
Suprir essas deficiências passa necessariamente pelo equacionamento da dívida com a União e por mais racionalidade no uso dos recursos públicos. Com tantas carências em serviços essenciais, faz sentido o Rio Grande investir R$ 1,6 bilhão na distribuição de gás encanado? Faz sentido ter que cobrir um déficit de R$ 700 milhões em uma empresa de distribuição de energia? Em nosso entender não faz sentido, pois a iniciativa privada tem condições de fazê-lo muito melhor do que Estado, que deve direcionar seus esforços para servir à população naquilo que só ele pode fazer.