Os britânicos e a saída da União Europeia
O sonho de todo político ou burocrata autoritário que detém o poder é o de recebê-lo sem ter que prestar contas a ninguém.
O sonho de todas as pessoas submetidas ao poder é que possam desvencilhar-se de seus governantes e decidirem por si mesmas o modo pelo qual querem viver suas vidas. Chamamos isso de democracia.
A saída da Inglaterra da União Europeia, embora economicamente possa parecer algo ruim (e quem disse que decisões políticas corretas não geram dores de cabeça econômicas não é mesmo amigos brasileiros? Afinal, vivemos a pouco tempo situação semelhante aqui), é uma manifestação com claro cunho político e democrático que visa demonstrar a soberania dos povos frente às tendências centralizadoras, totalitárias e globalistas do atual modelo político anti-democrático que vigora na União Europeia.
Com um parlamento surdo, mudo e impotente, que não veta nem opina de fato sobre a legislação, ficam as comissões executivas, com seus políticos e burocratas que nelas tomam assento sem serem eleitos, com a competência para tomada de todas as decisões políticas, econômicas e sociais.
Em um parlamento engessado, no qual as diversas diferenças culturais europeias acabam sem voz e são lentamente substituídas por um discurso padronizado oriundo dos bastidores do poder, é gratificante observar a reação britânica tendente a reverter esse processo.
É curioso observar as semelhanças da organização política da União Europeia com outros modelos de Estados centralizadores com tendências absolutistas como, por exemplo a extinta União Soviética.
A União Soviética era governada por 15 pessoas não eleitas que nomeavam outras pessoas e que não prestavam contas a ninguém denominado de “Politburo”.
A União Europeia, por sua vez, é governada por 28 pessoas que nomeiam outras, que não podem ser demitidas e que também não prestam contas a ninguém, chamado de “Comissão Europeia”.
Alguém poderia dizer que a União Europeia possui um parlamento eleito. Ora a União Soviética também o tinha. Todavia tanto o Soviete Supremo como era denominado o parlamento soviético como o parlamento europeu apenas tem o poder de chancelar (dizer amém) para as políticas criadas pelos órgãos executivos.
Fazem já 800 anos que a Magna Carta Inglesa foi promulgada e nela já afirmavam os britânicos que nenhum governo deveria cobrar tributos sem o consentimento dos pagadores ou sem informar onde iria gastá-los.
Ainda, de modo claro, a oito séculos os ingleses previam de modo genuinamente democrático que não era somente a possibilidade de escolher governantes que os tornava livres, mas, principalmente a de responsabilizá-los e demiti-los quando agissem de modo contrário à vontade popular.
O ingresso na União Europeia deveria proporcionar maior segurança e ordem para os países europeus, essas eram as promessas e vantagens. Todavia, o que vemos sob o manto do slogan “”multiculturalismo” não é nada de multicultural, ordeiro ou seguro.
Observamos cada vez mais a padronização da cultura com a absorção das diferenças regionais por uma pauta global a todos os países do bloco. Agora já não deveríamos falar em espanhóis, italianos, alemães, húngaros, suecos ou gregos mas somente em “Europeus”.
A concentração de poderes em uma entidade absoluta fez da União Europeia a negação daquilo que se propunha criar: um verdadeiro órgão federativo, respeitador das autonomias e soberanias individuais, capaz de congregar as diferenças multiculturais em um todo abrangente sem, contudo, passar por cima das peculiaridades de cada membro.
Na verdade, o Estado europeu mostra-se como um novo Estado Unitário em que a agenda política criado pelos chamados “Eurocratas” dentro de seus escritórios e gabinetes em Bruxelas impõe-se de modo avassalador sobre as reais necessidades, interesses e especificidades dos cidadãos dos países que fazem parte do bloco.
De fato, e a realidade brasileira é retrato desse mesmo fenômeno, a concentração e a centralização de poderes gsempre geraram diversos embaraços para a democracia e a noção de que o povo é o verdadeiro dono do poder. Nosso federalism, pouco federativo, concentrando o grosso das decisões políticas em Brasília é prova disso.
Os britânicos já sentem na pele diversos efeitos nocivos com relação a agenda política da União Europeia como, por exemplo, a crescente imigração muçulmana e a islamização da cultura do país gerando níveis de violência gigantescos no país. A obliteração de costumes e tradições que o common law legitimou ao longo dos séculos estavam sendo substituídos por um direito alienígena e ilegítimo aos olhos dos habitantes da ilha, gerando asim desconfiança para com as instituições públicas e ao aumento do conflito e da desordem social.
A saída do Reino Unido, excelência de democracia no mundo, da União Europeia demonstra uma luta contra essa concentração de poderes e uma afirmação clara, ao melhor estilo britânico, de que como afirma a letra da música clássica “Rule Britannia, de Thomas Augustine Arne, “os britânicos nunca, nunca, nunca deverão ser escravos” (Britons never, never, never shall be slaves).