E agora Brasil?
Não utilizamos cookies próprios. Nosso site utiliza apenas cookies de terceiros essenciais e para monitoramento de acessos e estatística dos site. Ao continuar navegando você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Sombra horizontal g
  • 18/04/2016

E agora Brasil?

Eagorabrasil

Lastimo ver que as manifestações se pautam ou pelo regozijo daqueles que veem na destituição da Presidente a panaceia para todos os males ou, para os desgostosos com o resultado da votação, ironizam nossos deputados, instituições, fazendo troça e piada da atual crise, importando-se, no presente momento, mais pela discussão de personalidades, comportamentos e falas individuais dos parlamentares que pelo debate de ideias.

Eu sempre critiquei o nosso sistema presidencialista e o instituto do Impeachment enquanto modelo jurídico-político de responsabilização por acreditar ser ele demasiado lento e falacioso, capaz de punir e ser efetivo na troca dos maus governos somente quando todas as circunstâncias conspiram contra o acusado.

O mais revoltante em toda essa crise política, é perceber, depois de relembrar diversos fatos da nossa história constitucional ao longo de mais de 100 anos de República que as discussões se mantém, ainda, calcadas no voluntarismo personalista dos nomes que estão no poder.

Ora, hoje é Cunha, Dilma, Lula, Aécio, Temer.

Ontem foram Júlio de Castilhos, Borges de Medeiros, Pinheiro Machado, Getúlio Vargas, Juscelino Kubistchek, João Goulart, Carlos Lacerda, Humberto Castello Branco, Costa e Silva, Médici, Geisel dentre tantos outros nomes. Adorados e odiados. Heróis e Vilões.

É uma pena, ver que continua “tudo como dantes no quartel de Abrantes”! Discutimos nomes, personalidades, comportamentos. A fala de um, o pronunciamento de outro, o que um disse ou deixou de dizer. No fundo, a crítica aos parlamentares e as falas que ontem foram realizadas não se diferenciam do popular “fofoquismo” acerca da vida alheia. Do comentário sobre o carro novo do vizinho, da cortina nova da cunhada, da viagem que o colega de trabalho fez.

Que sina a nossa de discutir banalidades ante o cenário caótico da política nacional. Capacidade de fazer troça da desgraça. Jeito bem brasileiro de ter a capacidade de viver bem no desgoverno e na bagunça e ir levando a vida numa boa. O céu caindo sobre nossas cabeças e a maior preocupação é o que o deputado disse ou deixou de dizer.

Será assim tão difícil nesse cenário, começarmos a discutir soluções mais amplas que a mera troca de nomes ou dos argumentos que os políticos adotam? Que saiam as Dilmas, Cunhas, Lulas, Aécios e tudo mais, ok. Mas tirá-los do poder, sem mexermos nas regras do jogo, não seria tapar o sol com a peneira, dando possibilidade para que novos corruptos sejam gerados nos destroços deixados pelos que hoje foram punidos?

O Brasil não precisa de um camisa 10, precisa de um esquema tático. Se formos procurar salvadores da pátria, como sempre fizemos pergunto: Teremos algum salvador capaz de fazer o papel de Cristo, sacrificando sua própria carreira política e seu ego em prol de mudanças radicais no sistema político??

Não seria a hora da sociedade unir forças em prol da reestruturação total do modo de fazer política? Discutir tudo: Monarquia ou República; Parlamentarismo ou Presidencialismo; Estado Unitário ou Federativo; Voto Distrital ou Proporcional; voto obrigatório ou facultativo, enfim, não seria esse o momento??

O Congresso não levanta tais pautas porque elas inexistem no seio da própria sociedade. As falas refletem aquilo que a sociedade adota sem perceber: a eterna personalização da política brasileira e a incapacidade de pensarmos política de um modo institucional.

A sensação pós-impeachment é de que o esforço imenso que a sociedade fez ao longo dos últimos meses se reduz a uma pequena esperança de melhora econômica com a entrada de uma nova personalidade no cenário político, um novo nome, nada mais.

Será tão difícil assim paramos para refletir e exigirmos enquanto corpo político constituído mais do que a mera troca dos nomes que nos governam? Seremos tão indignos e fadados a miséria que não podemos pretender viver numa sociedade política organizada e realmente boa de se viver?

Por Mateus Wesp