O Relativismo e os Farroupilhas
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  • 19/09/2017

O Relativismo e os Farroupilhas

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Como animal racional, somos seres que buscamos a verdade.

Como animais preguiçosos, cansamo-nos de indagar sobre as coisas e decidimos que elas são aquilo que cada um decidir.

O discurso do “cada um faça o que quiser da sua vida”, comum aos que tem preguiça de agir em prol da verdade, é amparado por uma filosofia relativista que nos dias de hoje ocupa um lugar proeminente em nossa sociedade.

Em uma época que tudo parece tão confuso, em que as certezas de ontem são as dúvidas de hoje, muitos se perguntam se ainda tem sentido falar em “verdade”.

Muitos ditos “modernos” se questionam: “mas e é possível falar da verdade nos dias de hoje? Não vivemos em uma sociedade democrática, livre e pluralista”?

Não tem cada qual o direito de pensar o que quiser e de viver como lhe apetecer?

Saibam todos que da resposta a estas perguntas essenciais depende a sobrevivência de nossas sociedades ditas livres. E para respondermos a estas dúvidas, precisamos esclarecer as diferenças entre pluralismo e relativismo.

O pluralismo é fruto da liberdade humana e se consagra na convivência das pessoas segundo valores morais comuns. Não se negam as diferenças de pontos de vista, mas afirmam que esses pontos de vista estão ancorados em valores verdadeiros, imutáveis, que servem de referência para todos. Portanto, não podem ser modificadas seguindo o gosto de cada um.

É somente por termos certeza de que os homens possuem algumas verdades que são imutáveis, valores que unem as pessoas, que podemos afirmar que somos livres.

Afinal, se não existe verdade, tem sentido falar em liberdade? Ser livre para que? Para nada?

Lembrando as epopeias farroupilhas - já que estamos na semana em que comemoramos as nossas lutas contra a tirania e em favor da autonomia do indivíduo - não seriam livres os gaúchos daquela época exatamente por concordarem que a liberdade é um bem, uma verdade, sempre e em todo o lugar?

Não eram livres por terem a opção de continuarem escravizados por um poder tirânico e optarem, livremente, por resistir a esta tirania?

Infelizmente foi-se o tempo dos homens de fibra, que tratam das verdades no “fio do bigode”. Vivemos na época da dissimulação, da covardia, dos ataques mascarados por adulações e sorrisos.

Vemos que nos dias atuais é forte a ideia enganadora que, sob o pretexto de defender o saudável pluralismo e democracia, busca consolidar um relativismo moral violento.

O relativismo, para quem não sabe, consiste na filosofia que nega que existe certo e errado, bem ou mal ou a justiça. Afirma que tudo é uma questão de ponto de vista.

O pluralismo, como já dito, é manifestação positiva do direito à liberdade segundo aquilo que é certo, segundo a verdade. Retornando aos Farroupilhas, a liberdade de lutar pelo bem de um povo, contra a tirania - que, todos sabem, sempre é um mal, não é questão de ponto de vista -, foi o que motivou nossos valentes gaúchos à peleia.

Assim não o fosse, se não existisse certo ou errado, sendo liberdade ou tirania uma mera questão de ponto de vista, teria ocorrido o 20 de Setembro? Teriam lutado os farroupilhas para restaurar a ordem na Província de São Pedro? Certamente que não.

O relativismo, ao contrário do pluralismo, constitui o abuso da liberdade.

Os relativistas, muitos dos quais defendem, por exemplo, barbaridades como as manifestas na mostra de arte ocorrida no Santander Cultural, nesta semana em Porto Alegre, se consideram no direito de julgar arbitrariamente a realidade como se ela pudesse ser manipulada e alterada conforme o gosto do vivente.

Sem ter o apreço necessário pelo que é real, pela verdade, os relativistas deixam a inteligência abandonada ao próprio capricho e por isso ficam impedidos de reconhecer as coisas como são.

A realidade não é dupla. Podemos ter pontos de vista distintos sobre algumas coisas, mas isso não fará o certo virar errado ou o errado virar o certo.

Nunca imaginaríamos que nós gaúchos, que tanto lutamos por valores morais e por liberdade, que tantas revoluções fizemos, chegaríamos ao ponto de termos a razão tão distorcida que não pudéssemos mais diferenciar liberdade de tirania, arte de crime, pedofilia e pornografia de gosto artístico.

Do jeito que as coisas vão, logo estaremos incapacitados de percebermos diferenças morais entre:

- um terrorista e um cidadão de bem; 

- um nazista e um judeu;

- um defensor do aborto e um defensor da vida;

- um vendedor de sorvetes e um vendedor de  drogas;

- aquele que vive fora da lei e aquele que vive dentro da lei.

O relativismo abre assim a porta ao "tudo é válido". Porta que sempre deixa entrar o mais desatinado, o irracional.

Com essa lógica, o viciado em drogas a quem se pergunta: "Por que você se droga?", sempre pode responder: "E por que não?", já que agora, em nossa sociedade moldada pelo relativismo, o bem e o mal se tornaram pontos de vista, e cada um interpreta como quer. Observamos no Brasil movimentos que inclusive defendem a existência de uma Cracolândia, vejam que desatino.

Com uma ética tão fluída, sem nenhuma base sólida, chegamos a perder o sentido do velho refrão do "fazer o bem sem olhar para quem”.

Reina quase em absoluto domínio o refrão do “faça o que quiser, o que lhe der vontade".

O quão baixo nossa civilização chegou. Reflitamos sobre nossas ações.

O orgulho e os motivos morais das lutas dos farrapos ainda não foram esquecidos. Não deixemos a arbitrariedade tomar conta do império da lei, da ordem e da verdade.

Por Mateus Wesp