Trabalhador: O explorado ideologicamente
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  • 01/05/2017

Trabalhador: O explorado ideologicamente

Lula

Em todas as épocas da humanidade encontramos situações em que os mais fracos foram ludibriados pelos mais astutos. Assim sempre foi, e assim ainda é.

O trabalhador não escapa dessa lógica. Aquele que cuja a única riqueza que possui são os filhos, foi denominado de proletário pois a prole é único bem que lhe resta. Sendo a vida feita de necessidades, o trabalhador, precário em sua condição na maioria das vezes, tem exigências imediatas, é aquele que não pode esperar. E não pode esperar não porque seja birrento, mas porque sua existência e de sua família dependem disso. Seu estômago, pede alimentos e seu corpo pede vestes.

Por outro lado, todo homem deseja prestigiar-se ante os seus semelhantes. Todos querem ser ou, pelo menos, parecer que são superiores em alguma coisa. É da natureza mimética (imitativa) do desejo humano desejar aquilo que o outro deseja, levando a uma competição entre seres desejantes que buscam impor-se aos outros com alguma superioridade pois imaginam poder preencher o vazio e inferioridade que sentem, adquirindo os objetos que o outro ser desejante tem ou aparenta ter. Buscar impor-se e ser superior traz a expectativa de segurança psicológica e por isso um deseja ser mais simpático, outro mais forte, outro mais hábil, outro mais bonito, outro mais rico.

Todavia, dentre os muitos seres desejantes, existem uns que, não conseguindo sobressair-se por méritos próprios, buscam impor-se pelo poder político, exercendo esse poder sobre os outros.

São os medíocres que buscam um cargo ou posição política que lhes façam grandes porque sabem não ser grandes. Quem é grande não procura ocupar o cargo grande para ganhar uma nova identidade. Quem realmente é grande cria para si a própria grandeza. É grande porque é grande, e não porque ocupa um cargo grande.

Quem verdadeiramente se eleva é quem cresce por si, por seus atos e por suas realizações por suas façanhas e pelo uso de seu livre-arbítrio. Cria o seu lugar como Garrincha criou o seu no futebol, ou Cervantes criou o seu na literatura. Nem Garrincha nem Cervantes foram grandes porque ocupavam cargos elevados, mas foram grandes porque realizaram obras elevadas.

Aquele que não suporta a sua inferioridade, que não aguenta a sua mediocridade, quer o cargo elevado, porque julga que, ocupando-o, será melhor que os outros. Aí o motivo de ser o proletário o grande explorado pelos que desejam ocupar altos cargos políticos, que, não podendo ser grandes por si mesmos, sobem nas costas magras do trabalhador para sentirem-se grandes e importantes.

E qual a tática destes malandros? Exploram a miséria e a carência do trabalhador, abusam de sua boa-fé, utilizam-se de sua ignorância, manipulam até a fome dos filhos, a seminudez da esposa e, usando da urgência das necessidades do proletariado, prometem que darão imediatamente o que o trabalhador precisa. Com mirabolantes promessas instigam o desejo do trabalhador por um prato de comida, pelas vestes que precisa, pela casa própria que não tem fazendo-o acreditar que tudo é uma questão de querer fazer. Basta pelo voto, conceder ao malandro o poder que o alto cargo político lhe fornece.

E se der errado, ora, basta justificar a enganação culpando os outros. Afinal, sempre é possível culpar alguém para explicar, porque não lhe deram o que lhe prometeram. Os culpados são os outros. E quem são esses outros?

Ora, os “outros”, na verdade, não são tão diferentes destes que acusam. Os primeiros que acusam os segundos, são pelos segundos também acusados. Acusam-se mutuamente. Todos, quando falam, são angelicais criaturas que só pensam no bem. Os outros, esses sim, só fazem o mal. O proletário que tome cuidado pois os “outros” são sempre os traidores do povo. Todos se acusam mutuamente de traidores quando na verdade, no embate, esquecem que acabam, pela irracionalidade e violência da discussão, deixando de lado o trabalhador, pessoa de carne e osso e não mero conceito ou ideia.

O trabalhador, vítima de suas necessidades, vítima de sua ignorância e fome, de seu apetite desenfreado é culpado porque ouve quem não deveria ouvir, segue a quem não deveria seguir. Não percebe ele que de suas mãos que sai toda riqueza do mundo. Nunca foram os detentores de altos cargos políticos que o ergueram, mesmo aqueles que saem de seu seio para pregarem em palanques que o ajudarão.

 

 

Em toda a história, os que mais ajudaram o trabalhador jamais andaram à caça de altos cargos políticos. Os maiores benfeitores do trabalhador sempre foram os que eram grandes por serem grandes. Aqueles que pela sua grandeza econômica ou cultural, por caridade, auxiliaram o próximo sem intenções politiqueiras de, às custas do trabalhador, obter a grandeza que sabe não poder adquirir por méritos próprios.

E são exatamente estes que hipocritamente pregando pelo bem do trabalhador, desejam que ele permaneça na ignorância e na miséria, porque sabem que se ele suprir suas necessidades de comida, vestes e habitação não darão mais ouvidos aos discursos politiqueiros e acusatórios quem jogam “uns contra os outros”.

Se o trabalhador possuir meios de trabalhar dignamente, liberdade de ir e vir, de ganhar seu salário e de viver harmoniosamente com aquele que lhe deu o emprego, não permitirá que os astutos da política se tornem grandes as suas custas. Enquanto o trabalhador tiver fome, corre o risco de ser explorado pelos medíocres que, não conseguindo serem grandes por conta própria, nem economicamente nem culturalmente, precisam manipular as massas para conseguirem parecer o que não são: grandes.

As vezes em que o trabalhador saiu da pobreza, sempre o fez pelo seu esforço individual combinado com os de seus irmãos, que inovam, arriscam, investem e criam oportunidades de trabalho e de geração de riqueza. O seu verdadeiro amigo não é aquele que lhe pede o voto, mas aquele que lhe ensina como melhorar a sua vida, conquistar um trabalho, aumentar o seu salário e isso, de modo real, não de modo fictício como vemos em belos discursos ou projetos de lei.

A vida do trabalhador só melhorou quando, dirigindo-se aos outros trabalhadores, principalmente aqueles que empreendem e criam oportunidades de trabalho, esteve disposto a perguntar: o que juntos podemos fazer para sairmos da situação em que nos encontramos? Não podemos juntar outros companheiros, como nós, e cooperarmos juntos para fazer alguma coisa real que possa melhorar a nossa vida? Quem sabe eu ajudo a construir a tua casa, e tu a minha? Não poderemos construir mais se nos ajudarmos ao invés de ficarmos com a visão ideológica de luta, em que se acredita, ingenuamente ou maliciosamente que o problema são “uns” contra os “outros”?

Por Mateus Wesp